Transfusão sanguinea: cuidados e complicações
Transfusão é o ato médico de transferir de forma intravenosa, hemocomponentes (plasma sanguíneo, plaquetas, hemácias e leucócitos) de um doador para o sistema circulatório de um receptor diferente ou de um indivíduo para ele mesmo,conhecido como transfusão autóloga. Para o sucesso do procedimento, é necessário haver uma compatibilização entre os agentes.
Essa compatibilidade é confirmada através da classificação por tipo sanguíneo e RH, bem como pela realização de exames sorológicos para rastrear principalmente HIV, Hepatite C, Sífilis que determinarão se o possível doador está apto à doação.
Quais as indicações?
Acidentes com grande perda sanguínea, eritroblastose fetal, tratamentos oncológicos, cirurgias de grande porte, reposição de células destruídas ou mesmo não fabricadas pela medula óssea.
Modalidades da tranfusão
Programada: agenda-se o dia e hora;
Rotina: a se realizar dentro de 24h, comum no atendimento de clientes hospitalizados;
Urgência: realizada até 3h após a solicitação;
Emergência: quando o retardo na administração da transfusão pode acarretar risco para a vida do cliente.
Complicações da transfusão
A pior complicação existente é a coagulação do sangue transfundido ou uma reação chamada hemolítica,que é a destruição das hemacias durante ou após a transfusão e geralmente começa com um mal-estar ou uma ansiedade. Por isso, o enfermeiro deve estar atento à estas reações como também febre, hipersensibilidade, prurido, edema, tontura, cefaleia e erupção cutânea bem como sintomas de dificuldade respiratória e espamos musculares,sendo esses dois últimos bem menos comuns,mas podem ocorrer.
Portanto, um paciente não pode receber um tipo de sangue no qual ele possui anticorpos contra.
O sistema AB0
As hemácias contêm algumas proteínas em sua superfície que são chamadas de antígenos ou aglutinogênios. São esses antígenos que receberam os nomes de A, B, AB e O. A incompatibilidade entre os sangues surge quando há diferenças entre as proteínas presentes nas superfícies das hemácias do doador e do receptor.
Na verdade, existem apenas 2 tipos de antígenos, que são o A e o B:
Se um indivíduo tiver antígenos A na superfície das suas hemácias, o sangue dele é classificado como tipo A.
Se um indivíduo tiver antígenos B na superfície das suas hemácias, o sangue dele é classificado como tipo B.
Se um indivíduo tiver antígenos A e antígenos B na superfície das suas hemácias, o sangue dele é classificado como tipo AB.
Se um individuo não tiver nem o antígeno A nem o antígeno B na superfície das suas hemácias, o sangue dele é classificado como tipo O (ou tipo zero)
O sistema Rh
Segue a mesma lógica do sistema ABO. O antígeno Rh, também chamado de antígeno D, pode ou não estar presente nas membranas das hemácias. Se estiver presente, o paciente é classificado como Rh positivo e acientes Rh positivos não têm anticorpos contra o antígeno Rh.
Por outro lado, se o paciente não expressar o antígeno Rh nas membranas das hemácias, ele é classificado como Rh negativo e pacientes Rh negativos também não possuem anticorpos contra o antígeno Rh, mas podem vir a desenvolvê-los, caso sejam expostos a sangue Rh+.
Cuidados de Enfermagem
Pré-transfusional:
Garantir a assinatura do Termo de Consentimento pelo paciente ou familiar/responsável.
Verificar a permeabilidade da punção, o calibre do cateter, a presença de infiltração e os sinais de infecção para garantir a disponibilidade do acesso.
Confirmar obrigatoriamente a identificação do receptor, do rótulo da bolsa, dos dados da etiqueta de liberação, a validade do produto, a realização de inspeção visual da bolsa (cor e integridade) e a temperatura por meio de dupla checagem (Enfermeiro e Técnico de Enfermagem) para segurança do receptor.
Garantir que os sinais vitais sejam aferidos e registrados para analisá-los.
Garantir acesso venoso adequado, exclusivo, e equipo com filtro sanguíneo.
Prescrever os cuidados de enfermagem relacionados ao procedimento.
Intra-transfusional:
Confirmar, novamente, a identificação do receptor, confrontando com a identificação na pulseira e o rótulo do insumo a ser infundido.
Verificar duas vezes o rótulo da bolsa de sangue ou hemoderivado para se assegurar de que o grupo e o tipo Rh estão de acordo com o registro de compatibilidade.
Verificar se o número e o tipo – indicados no rótulo do sangue, ou do hemoderivado, e no prontuário do paciente – estão corretos, confirmando-se, mais uma vez e em voz alta, o nome completo do paciente.
Verificar o conteúdo da bolsa quanto a bolhas de ar e qualquer alteração no aspecto e na cor do sangue ou do hemoderivado (as bolhas de ar podem indicar crescimento bacteriano; a coloração anormal ou a turvação podem ser sinais de hemólise).
Assegurar que a transfusão seja iniciada nos 30 minutos após a remoção da bolsa do refrigerador do banco de sangue.
Monitorar a transfusão durante todo seu transcurso e o tempo máximo de infusão não deve ultrapassar 4 (quatro) horas.
Permanecer à beira do leito do paciente, acompanhando o procedimento,durante os 10 (dez) primeiros minutos da transfusão
Infundir o insumo lentamente, sem ultrapassar a 5 ml/min,nos primeiros 15 (quinze) minutos
Observar, rigorosamente, o paciente quanto aos efeitos adversos da transfusão e, na negativa, aumentar a velocidade do fluxo.
Garantir o monitoramento dos sinais vitais em intervalos regulares, comparando-os.
Interromper a transfusão imediatamente e comunicar ao médico caso haja qualquer sinal de reação adversa, tais como: inquietação, urticária, náuseas, vômitos, dor nas costas ou no tronco, falta de ar, hematúria, febre ou calafrios.
Encaminhar a bolsa para análise,nos casos de intercorrência com interrupção da infusão,
Recomendar a troca do equipo de sangue a cada duas unidades transfundidas, a fim de minimizar riscos de contaminação bacteriana.
Pós-transfusional:
Garantir que os sinais vitais sejam aferidos e compará-los com as medições de referência.
Descartar adequadamente o material utilizado e assegurar que todos os procedimentos técnicos, administrativos, de limpeza, desinfecção e gerenciamento de resíduos sejam executados em conformidade com os preceitos legais e os critérios técnicos cientificamente comprovados, os quais devem estar descritos em procedimentos operacionais padrão (POP) e documentados nos registros dos respectivos setores de atividades.
Registrar e documentar todas as atividades desenvolvidas pelo serviço de hemoterapia de forma a garantir a rastreabilidade dos processos e dos produtos, desde a obtenção até o destino final, incluindo-se a identificação do profissional que realizou o procedimento. Deve-se constar obrigatoriamente:
data;
horário de início e término;
sinais vitais no início e no término;
origem e identificação das bolsas dos hemocomponentes transfundidos;
identificação do profissional que a realizou
registro de reações adversas, quando for o caso.
origem e identificação das bolsas dos hemocomponentes transfundidos;
identificação do profissional que a realizou; e
registro de reações adversas, quando for o caso.
Monitorar o paciente quanto à resposta e à eficácia do procedimento.
Referencias:
CUIDADOS DE ENFERMAGEM NA TRANSFUSÃO DE SANGUE: UM INSTRUMENTO PARA MONITORIZAÇÃO DO PACIENTE.Daiana de Mattia2 , Selma Regina de Andrade. Disponivel em http://www.scielo.br/pdf/tce/v25n2/pt_0104-0707-tce-25-02-2600015.pdf
O Papel do Enfermeiro em Hemoterapia.Enf.ª Luciana Paiva.2014. Disponivel em: http://www.ebserh.gov.br/documents/147715/393018/Papeldoenfermeiroemhemoterapia-EBSERH_SEE_15052014.pdf
Fundamentos da Biologia Moderna; Amabis e Martho